Como católicos, temos para nos iluminar a fé, além das Sagradas Escrituras, o Catecismo da Igreja Católica. Na “Constituição Apostólica Fidei Depositum, para a publicação do Catecismo da Igreja Católica redigido depois do Concílio Vaticano II”, o Papa João Paulo II esclareceu que o Catecismo da Igreja Católica “é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja”. E mais adiante, o Papa escreve ainda que o Catecismo da Igreja Católica nos é dado “a fim de que sirva de texto de referência, seguro e autêntico, para ensino da doutrina católica e, de modo particular, para a elaboração dos catecismos locais”.
Assim sendo, sobre a questão de Maria ter tido outros filhos ou não, devemos, como católicos, em primeiro lugar procurar a resposta no Catecismo da Igreja Católica. No parágrafo 500 encontramos que a Igreja sempre entendeu que as passagens que mencionam irmãos e irmãs de Jesus “não designam outros filhos da Virgem Maria: com efeito, Tiago e José, ‘irmãos de Jesus’(Mt 13,55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo (cf. Mt 27,56) que significativamente é designada como ‘a outra Maria’ (Mt 28,1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento (cf. Gn 13,8; 14,16; 29,15, etc.)”
Em um excelente livro publicado este ano pela Editora Paulinas, de autoria do teólogo leigo Afonso Murad, intitulado Maria, toda de Deus e tão humana, essa questão é tratada dentro do contexto de uma opção celibatária de Maria.
Creio que vale a pena ler o que o Afonso Murad escreveu, embora seja um pouco longo para o nosso programa:
“Os cristãos dos primeiros séculos reconheciam que Maria era especialmente abençoada por Deus e que ela viveu a Boa-Nova até a sua raiz. Por meio de sermões, orações, hinos litúrgicos, cartas e outros depoimentos dos “Pais e Mães da Igreja”, que temos guardados até hoje, pode-se ver que foi crescendo a convicção de que Maria, por opção de vida, dedicou-se de corpo e alma à causa de Jesus e do Evangelho, renunciando a ter outros filhos. A sua maternidade já não podia se limitar à família. Como membro e mãe da comunidade cristã, Maria consagrou-se de forma radical a Deus, abraçando livremente a castidade. Eles acreditavam que Maria não teve outros filhos por opção própria, por desejo de se consagrar mais intensamente a Deus. E buscaram, então, explicar as palavras da Bíblia sobre os ‘irmãos de Jesus’.
A primeira explicação diz que ‘irmãos de Jesus’ significa ‘parentes próximos’, pois no Oriente os laços familiares são muito estreitos. Às vezes, na Bíblia, um parente próximo é denominado ‘irmão’. Por exemplo: Abraão, tio de Lot (cf. Gn 11,31), chama-o de ‘irmão’ (Gn 13,8). Moisés considera como irmãos os seus compatriotas hebreus (cf. Ex 2,11).
A segunda [explicação] é muito antiga, mas as fontes não são dignas de confiança. Ela diz que os irmãos de Jesus eram filhos de um primeiro casamento de José. Portanto, seriam ‘meio-irmãos’ de Jesus. Alguns escritos apócrifos, não reconhecidos pela Igreja como inspirados por Deus, contam que o viúvo José, que tinha vários filhos, foi escolhido pelos sacerdotes para tomar conta de Maria, virgem consagrada a Deus.
A terceira explicação diz que os ‘irmãos de Jesus’ eram seus primos. Essa versão se espalhou com Epifânio e Agostinho nos séculos IV e V. Eles aproximam o texto de Mc 15,40, que fala da mãe de Tiago e de Joset longe da cruz, com Jo 19,25, que lembra a presença junto à cruz de uma irmã de Maria. Agostinho considera que a mãe de Tiago e Joset, conforme Marcos, é a irmã de Maria citada por João. Ou seja, Tiago e Joset, chamados ‘irmãos de Jesus’, são filhos da irmã de Maria. Logo, primos carnais de Jesus. Assim, por ampliação, todos os ‘irmãos de Jesus’ seriam filhos de sua tia e de seus tios.
Gregório de Nissa († 394) foi o primeiro Padre que, interpretando a leitura da anunciação, propôs explicitamente que Maria haveria feito o voto de castidade anteriormente à revelação do anjo. Tal idéia foi assumida posteriormente por Agostinho. Ele é responsável pela divulgação da versão de que Maria teria feito um voto de virgindade antes da anunciação. Mas tal hipótese não tem apoio na Escritura.”Concluindo sua reflexão sobre este assunto, Afonso Murad escreve que “os estudiosos da Bíblia e da história da Igreja têm voltado ao assunto da virgindade de Maria, e há muito ainda para se descobrir. Até agora, os católicos acreditam que os ‘irmãos de Jesus’ não são filhos de Maria e que ela, por livre opção, quis se consagrar a Deus pela castidade”.
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