Um ouvinte quer explicação sobre as interpretações pessoais da Sagrada Escritura, pois muitos teólogos continuam a fazê-la, apesar de advertidos. E pergunta se os exegetas continuam a interpretar como citado na Segunda Carta de Pedro 2,20-21
A passagem bíblica citada por você, refere-se
principalmente àqueles que conheceram a vontade de Deus e vivem como se fossem
pagãos, ou seja, de acordo com a própria vontade, mais para si do que para o
próximo e para o bem comum. Podemos associar esta passagem a outra, em que
Jesus diz que “a quem muito foi dado, muito será cobrado”. As interpretações
bíblicas são muito importantes para o conhecimento mais profundo de nossa fé,
porém, o mais importante para Deus e para o seu povo é a vivência da fé, é
vivermos todos como irmãos, filhos do mesmo Deus e Pai, independente da
religião ou igreja a que pertencemos.
Quanto às interpretações da Bíblia, o
Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina, parágrafo 12, dá a orientação
de como devemos interpretar a Sagrada Escritura, para não cairmos no perigo do
“achismo” ou da “achologia”, ou seja, em interpretações pessoais que só
confundem o fiel e não tem base sólida e científica. Lê-se na Dei Verbum: “Como Deus na Sagrada
Escritura falou por meio de homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada
Escritura, para saber o que ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção
o que o hagiógrafos realmente quiseram significar e aprouve a Deus manifestar
por meio das palavras deles. // Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, devem-se
ter em conta, entre outras coisas, também os ‘gêneros literários’. // A verdade
é proposta e expressa de modos diferentes, segundo se trata de textos
históricos de várias maneiras, ou de textos proféticos ou poéticos ou ainda de
outros modos de expressão. Importa, pois, que o intérprete busque o sentido que
o hagiógrafo pretendeu exprimir e de fato exprimiu em determinadas
circunstâncias, segundo as condições do seu tempo e da sua cultura, usando os
gêneros literários então em voga. Para entender retamente o que o autor sagrado
quis afirmar por escrito, deve atender-se bem, quer aos modos peculiares de
sentir, dizer ou narrar em uso nos tempos do hagiógrafo, quer àqueles que na
mesma época costumavam empregar-se nos intercâmbios humanos.// Mas, como a Sagrada
Escritura deve ser lida e interpretada com a ajuda do mesmo Espírito que levou
à sua redação, ao investigarmos o sentido exato dos textos sagrados, devemos
atender com diligência não menor ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura,
tendo em conta a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé. Cabe aos
exegetas, em harmonia com estas regras, trabalhar para entender e expor mais
profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo dalgum modo
preparatório, amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito
à interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o
divino mandato e ministério e guardar e interpretar a palavra de Deus”. É isso,
em suma, o que a Igreja nos ensina sobre a interpretação da Bíblia.
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