Por que a Igreja Ortodoxa da Rússia não quis aceitar a visita do Papa (2004) e por que o rancor da Igreja Ortodoxa grega com os católicos romanos?


Vamos lembrar que a Igreja Ortodoxa da Rússia, como as demais Igrejas Orientais, tem uma estrutura eclesial diferente da nossa. Na Igreja Oriental não há o ministério petrino, ou seja, a figura do Papa; há os diversas Patriarcas das Igrejas. Também vamos lembrar que, durante o regime comunista na União Soviética, as igrejas, de maneira geral, viveram quase que em clandestinidade. Com a queda do comunismo, em 1989, na qual o nosso Papa João Paulo II teve papel fundamental, a Igreja da Rússia passou a viver uma nova era de florescimento. A nossa Igreja Ocidental, a católica romana, fiel ao mandato de Jesus de anunciar o Reino a todas as criaturas, até os confins da terra, também passou a se fazer mais presente na Rússia, com um significativo aumento do número de igrejas e de fiéis. A recente criação de algumas dioceses da Igreja católica apostólica romana na Rússia foi interpretada, por alguns Patriarcas das Igrejas locais russas, como uma espécie de “ameaça”, na falta de termo melhor, à soberania da Igreja russa. A visita do Papa poderia, assim, fortalecer mais a Igreja Ocidental e enfraquecer a Igreja russa que está se reerguendo após décadas de comunismo.. Daí achar-se inoportuna, por alguns Patriarcas e não por toda a Igreja da Rússia, a visita do Papa naquele momento.
Em relação à segunda questão, não creio que podemos dizer que há “rancor” da Igreja católica Oriental com a Igreja católica romana ou Ocidental. Houve, no ano de 1054, um cisma, uma divisão na Igreja, surgindo a Igreja Oriental com sede em Constantinopla e mantendo a Igreja Ocidental, com sede em Roma. Além das questões políticas envolvidas, havia também a questão doutrinal. Segundo o nosso Credo Niceno-Constantinopolitano, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho; para eles, só do Pai. No cisma, as duas Igrejas se excomungaram, mas estas excomunhões foram retiradas em 1965. Embora não estejamos em comunhão plena, ambas mantêm relações e diálogos fraternos; e a Igreja católica Romana considera válidos todos os sacramentos ministrados pela Igreja Oriental. A doutrina de ambas é muitíssimo semelhante, diferindo a estrutura eclesial.

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